09/09/2008

Arte sim senhor(a) !


Escrito por Eliane Silva Pinto
26-Jul-2008


Os muros e as campanhas: o “atropelo” aos graffiti's acontece no país inteiro


Texto: Kuca 3000*


Esses dias passei por um muro em que estava estampada, com letras de cantos arredondados e números de cor diferente logo abaixo, pra dar contraste com o fundo branco, a propaganda de um candidato a Vereador de um partido de direita, juntamente com a do respectivo candidato a Prefeito. Claro que no dia 6 de Julho estamos em de campanha e os letristas se multiplicam aqui nas ruas da cidade, é natural q os candidatos se utilizem, também, das paredes para se promoverem na sua campanha, e nenhuma lei restringe esse tipo de publicidade visual... Mas, ao me ver ali lendo aquela parada toda com números, letras, siglas, e logotipos... Lembrei-me de ontem, onde, no mesmo muro, havia um bonito graffiti, que eu ate já me acostumei a ver ali.


Mano... Nossa q frio no estomago me deu, pois eu como artista urbano, também me utilizo das ruas como plataforma para divulgar meu trampo e abrir dialogo com a sociedade através dele.


Pensei então: como será a reação do escritor (writer) responsável pelo graffiti apagado? Será que quem apagou, não se importou com o conteúdo artístico expresso ali antes? Respondi a minha 1ª pergunta ao passar por outro muro, onde antes havia um graffiti de minha autoria: Como será que o writer reagiria? Bom, poderia ter sido pior,mas ao ver cerca 6 cartazes mal cobrindo todo o pequeno muro de uma avenida movimentada daqui, me respondi a 2ª pergunta:
Será que não se importaram com o conteúdo artístico expresso ali? Certamente que não, seja por não conhecer a cultura do graffiti e sua capacidade de inclusão social ou por não simplesmente pra cumprir a demanda. Também não acredito que tenham pagado pelo espaço que fica ao lado do comitê Estadual de um grande partido, o mesmo dos cartazes. Também não acredito que tenha sido pago ou terem autorizado a utilização daquele espaço, pois eu mesmo confesso não ter pedido a autorização do proprietário, pois se trata de um muro onde sempre houve graffitis, sempre renovados.


Aqui em Porto Alegre, a Prefeitura criou o DISK-PICHAÇÂO, mas não se preocupou em orientar a guarda municipal e muito menos a nossa população a diferenciar um graffiti de uma pichação, tendo vários grafiteiros tem arcado com ônus da falta de preocupação de nossos governantes e das suas secretarias.


Já em São Paulo, a coisa foi mais fundo, foi instituída uma lei contra poluição visual. Proibindo diversas formas de publicidade e caindo com força no graffiti, mesmo SP sendo a Babilônia do graffiti brasileiro, tendo diversos trabalhos sido apagados na cidade.


Isso me força a perguntar: é possível os políticos não enxergarem o bem e a vida que os muros grafitados trazem para o ambiente urbano? Ou isso é difícil através dos vidros fumê dos seus carros ou das janelas das suas mansões?


Julgado pelas condições da Vila Chocolatão, no centro de Porto Alegre, bem ali, ao lado da Câmara de Vereadores, onde diversos papeleiros habitam em condições sub-humanas, eu acredito que a 2ª pergunta seria a certa a ser feita.
Uma coisa é certa, em todo o país graffiti's são apagados em função das campanhas e os partidos promoverem suas candidaturas.


Isso, na minha visão é uma grande perda cultural para a cidade, nessa época onde toda a cultura é de difícil aceso, onde o cinema é caro, o teatro também e a televisão não traz grandes os mesmo benefícios q a arte pura traz instigando a imaginação e o pensamento.
Fico feliz, porem, ao ver exemplos como Salvador, onde o grupo de grafiteiros que contribuem com a Prefeitura, se organizou e criou um documento repudiando o "atropelo" de graffiti's para finalidades políticos partidárias, e irão entregar na câmara municipal.


Lá, Salvador, é uma realidade especifica São Paulo outra, e Porto Alegre outra e cada uma tem particularidades. Em algumas o graffiti é mais difundido e unido e organizado em outras nem tanto, mas essa arte que vende telas a quantias consideráveis, que realiza através de oficinas trabalhos sociais, e que hoje é a tendência da moda sendo muito utilizado por empresas e produtoras para contemporanizar seus produtos e marcas, e que traz a arte para a rua, acessível a todos sem cobrar por isso, merece mais atenção dos candidatos. Afinal de contas se o candidato fulano escreve seu nome próprio em muros com o objetivo de atingir a sociedade, não é diferente de outras formas de expressão como uma pichação por exemplo.


Alguns irão se lembrar na época da velha cédula de papel, nas eleições municipais de 1988 no Rio de Janeiro, após um bloco de um programa de televisão humorístico, o Macaco Tião teve alto índice de aceitação popular (9,5%) tendo seus eleitores realizado diversas pichações para promoverem seu candidato, com os dizeres: VOTE MACACO TIÃO.


Encerrando esse artigo registro que considero um grande erro, apagar graffitis, que são feitos por grandes nomes da arte contemporânea, já tendo se colocado junto aos grandes mestres da pintura, por finalidades de campanha eleitoral, pois se tratam de patrimônios públicos da humanidade e da sociedade de cada região como museus a céu aberto, devem ser respeitados os muros que contem esse tipo de expressão tanto quanto os postes e telefones públicos, pois é terrível ver o trabalho de verdadeiros Van Gogh's atual atropelados por nomes e números.

Certamente, meu voto, esse candidato não terá .

* Kuca 3000 é diretor de comunicação da Nação Hip Hop Brasil/Porto Alegre
Art do Risco Crew

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