28/05/2009

Reportagem - Guimarães Rosa



O trem estacou, na manhã fria,

num lugar deserto,

sem casa de estação:

a parada do Leprosário...


Um homem saltou, sem despedidas,

deixou o baú à beira da linha,

e foi andando. Ninguém lhe acenou...


Todos os passageiros olharam ao redor,

com medo de que o homem que saltara

tivesse viajado ao lado deles...


Gravado no dorso do bauzinho humilde,

não havia nome ou etiqueta de hotel:

só uma estampa de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro...


O trem se pôs logo em marcha apressada,

e no apito rouco da locomotiva

gritava o impudor de uma nota de alívio...


Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,

mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,

como quem não tem frente, como quem só tem costas...

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