Um certo dia vi um amigo a desenhar o rosto de uma colega da fotografia. Todos ao seu redor ficaram extasiados... "Nossa , como você desenha bem!"
Calada, fiquei pensando o porque de tanto espanto...eu também conseguia fazer aquilo.
Desenhar o rosto de minha mãe enquanto ela cochilava a tarde era um hábito.
Aí veio a surpresa: Não era eu quem sabia desenhar, as outras pessoas é que não sabiam.
Mas como?
Desenhamos desde a Pré- história, desde criança.
Começamos com linhas tortas, depois estas se cruzam e passam a fazer sentido aos olhos de alguém que observa...
O famoso boneco de pauzinhos vai ficando flexível e gordinho...
A casinha de sapé, adquire portas e janelas, estas terão cortinas, e os detalhes vão se formando...
Disse minha prima de 4 anos enquanto desenhava: " Ops! O miolo da florzinha tá grande e as pétalas estão pequenas...ficou feia..."
Eu que observo penso: "Parece um girassol..."
O ponto de Referência, a Divina Proporção, a Série de Fibonacci...
Como vou explicar àquela garotinha decepcionada que ela acaba de perceber o que é tão difícil explicar a um adulto?
Degas tinha toda razão!
30/01/2008
MELADO DE LUZ E COR
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Teu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
Ao cabo da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da gia
E muito mais feio que um hipopótamo insone
"Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiá
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria
Zeca Baleiro -
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artes,
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