Playing for Change une músicos de rua do mundo inteiro em torno de clássicos pop
Leonardo Lichote
Em 1999 O engenheiro de som Mark Johnson andava numa estação de metrô nova-iorquina, a caminho do trabalho, quando viu - e ouviu - a cena. Eram dois monges vestindo túnicas brancas, um deles tocando violão com cordas de nylon, e o outro cantando. Quando olhou em volta, viu cerca de 200 pessoas atentas, algumas chorando, outras rindo. O projeto, que une músicos de rua de diversos lugares do mundo, é fruto de uma ideia que nasceu naquela estação, perante aqueles monges.
- Vi ali a incrível habilidade que a música tem de aproximar as pessoas - conta o produtor. - Poucos entendiam as letras ou mesmo a língua, mas todos sentiam o poder da música. Então percebi que uma boa parte da melhor música que eu ouvia se encontrava na rua, no caminho do estúdio onde eu trabalhava. Decidi montar um estúdio de gravação móvel e procurar pelos momentos de música e inspiração onde eles estivessem.
Munido de seu aparato, Johnson desde então roda o mundo gravando artistas de rua - negros e brancos, árabes e muçulmanos, violoncelistas europeus e percussionistas indígenas - em seus habitats, interpretando hinos pop de paz, tolerância, amor e apelos por um mundo melhor. Os registros renderam um documentário em 2003, "Playing for Change", que mostrava músicos de três cidades americanas em ação. Mas , como no dia dos monges, ele andava distraído quando ouviu algo que mostrou para ele que o projeto poderia ser maior:
Poucos entendiam as letras ou mesmo a língua, mas todos sentiam o poder da música. Então percebi que uma boa parte da melhor música que eu ouvia se encontrava na rua
- Estava em Santa Monica , Califórnia, quando ouvi Roger Ridley cantando "Stand by me" a um quarteirão de distância. Corri para assistir ao fim de sua apresentação e nunca mais fui o mesmo. Sua voz, alma e paixão nos levaram a buscar pelo mundo outros músicos para adicionar à sua gravação de "Stand by me" - lembra. - Essa canção transformou o projeto Playing for Change de um grupo pequeno de indivíduos num movimento global de paz e compreensão. A faixa traz 35 músicos de todo o mundo. Eles podem não ter se encontrado nunca, mas conversaram pela música.
"Stand by me" abre o CD/DVD, e Ridley e seu violão são os primeiros a serem ouvidos. Mas a gravação ainda inclui, entre outros, a voz e a gaita do americano Grandpa Elliott, as congas do espanhol Django "Bambolino" Degen, o violoncelo do russo Dimitri Dolgonov, o coral sul-africano Sinamuva e o cavaquinho do brasileiro - o único do projeto em meio aos mais de cem músicos participantes - Cesar Pope.
- Encontramos Cesar Pope em Barcelona. Sua energia era tão positiva que nos tornamos amigos instantaneamente - conta. - Amamos música brasileira, e esse foi o primeiro passo para aprendermos mais sobre ela.
O repertório que se ouve e vê - os clipes do DVD potencializam a força dos encontros, ao mostrar as diferentes roupas, feições e cenários dos artistas - em "Playing for change: Songs around the world" inclui canções como "One love", "War" e "No more trouble" (as três de Bob Marley), "Talkin' bout a revolution" (Tracy Chapman), "A change is gonna come" (Sam Cooke) e "Stand by me" (também de Cooke, sucesso com John Lennon). As letras que falam de revolução, mudança e pacifismo, aliadas ao discurso de Johnson, remetem a antigas utopias dos anos 1960/70 - hippies, flower power, "faça amor, não faça guerra" e similares. Tecnologia à parte - afinal, o projeto só é possível graças a ela -, a impressão que se tem é que, no conceito, "Playing for Change" pertence a uma época passada e não aos dias atuais, aparentemente mais cínicos e pragmáticos.
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