25/03/2011

A química do chocolate

Por: Fábio Reis*

Associado à paixão, ao bem estar e, para alguns exagerados, ao vício, o chocolate é um alimento extremamente antigo, sendo que já foi idolatrado por certos povos, como os astecas.



Sua ligação com a paixão e com o bem estar existe, pois ao ingerir chocolate, uma série de substâncias que esse alimento contém, como a feniletilamina e o triptofano são introduzidas no organismo. Além disso, há liberação de endorfina, que é um opióide produzido pelo próprio organismo.



Uma das substâncias em questão, o triptofano, é um precursor da serotonina. Esse aminoácido tem uma variação constante a nível plasmático, dependendo da ingestão de alimentos e do momento do dia. O triptofano é captado pelos neurônios, e já é convertido em 5-hidroxitriptofano pela triptofano hidroxilase. Logo após ele é descarboxilado por um aminoácido descarboxilase transformando-se em 5 hidroxitriptamina, ou 5-HT, mais conhecida como serotonina. A serotonina pode estar ligada ao aumento de apetite e à obesidade. Isso foi comprovado em animais de laboratório onde agonistas dos receptores de 5-HT1A, como 8-OH-DPAT, e antagonistas que atuam nos receptores de 5-HT2, aumentaram o apetite, e em alguns casos observou-se o desenvolvimento da obesidade. Além disso, há estudos que compravam a ligação da serotonina com o humor. Isso se dá, pois há uma ampla distribuição desse neurotransmissor no sistema límbico. Experimentos já foram realizados, onde o triptofano foi usado no tratamento de depressão com o objetivo de aumentar a síntese de 5-HT.
Além dos efeitos que a serotonina pode desencadear, a ingestão de chocolate aumenta os níveis de endorfina no cérebro. A endorfina é relacionada ao bom humor, sensação de bem-estar e euforia e também a um efeito analgésico. Ela pertence a classe dos opiódes, e estes, em geral, tem relação de seus receptores com a proteína G inibindo a adenilato ciclase, reduzindo dessa forma a quantidade intracelular de cAMP. Além disso, a proteína G pode estar associada à canais iônicos, e por influência dessas substâncias os canais de potássio são abertos e a abertura desses canais inibe a abertura dos canais de cálcio.Esses efeitos na membrana reduzem a excitabilidade neuronal e a liberação de neurotransmissor. Isso gera como efeito global, uma inibição ao nível celular.

Com todos esses efeitos, os ditos chocólatras podem tentar justificar o seu vício. Porém os poucos estudos nessa área, revelam que ainda não há um consenso se o chocolate pode realmente viciar, pois é evidente que há uma alteração química no corpo, mas não necessariamente essa alteração pode causar algum tipo de dependência.

* aluno de medicina da UnB, cursando a disciplina Bioquímica e Biofísica

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